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Brain Rot: Como o Excesso de Tecnologia Está 'Corroendo' Nosso Cérebro e o Que a Ciência Diz Sobre Isso

  • Foto do escritor: Ronaldo Gorga
    Ronaldo Gorga
  • 9 de mai.
  • 4 min de leitura


Em 2024, o termo "Brain Rot" foi eleito a Palavra do Ano pelo Oxford Dictionary, refletindo uma crescente preocupação social e científica com os efeitos do uso excessivo de tecnologia sobre as funções mentais. Em meio à era dos vídeos curtos, notificações constantes e estímulos digitais ininterruptos, cresce a sensação de esgotamento mental, dificuldade de foco e perda de produtividade cognitiva.

Mas o que exatamente está acontecendo com nosso cérebro? Neste artigo, abordaremos o conceito de Brain Rot, seus impactos neurobiológicos, como ele se manifesta no cotidiano e o que a ciência atual revela sobre os mecanismos envolvidos. Além disso, apresentaremos estratégias práticas, baseadas em evidências, para proteger a saúde cerebral diante desse cenário.



O Que é Brain Rot?

Brain Rot (traduzido como "apodrecimento cerebral") não é um diagnóstico clínico, mas sim um termo cultural que resume um fenômeno cada vez mais comum: o declínio progressivo da função cognitiva associado ao uso prolongado e passivo de tecnologias digitais.

Entre os sintomas relatados estão:

  • Dificuldade de manter a atenção em uma tarefa por longos períodos;

  • Sensação de "mente entorpecida";

  • Perda da criatividade e pensamento crítico;

  • Falhas de memória de curto prazo.

Estes sintomas têm relação direta com o estilo de vida moderno, marcado por interações constantes com conteúdos fragmentados, rápidos e altamente recompensadores — como aqueles encontrados no TikTok, Reels e plataformas de entretenimento em loop.




A Ciência Por Trás do Brain Rot

  1. Neuroplasticidade e Reconfiguração Neural: O cérebro é plástico, ou seja, ele muda constantemente em resposta às experiências. A exposição frequente a estímulos digitais rápidos molda o sistema nervoso para favorecer respostas rápidas, mas não sustentadas, prejudicando a atenção sustentada, o raciocínio e a memória de trabalho. Segundo Small et al. (2020), o uso intenso de dispositivos digitais altera circuitos de atenção e recompensa no cérebro, especialmente em adolescentes, reduzindo o engajamento em tarefas que exigem esforço mental prolongado [Small et al., 2020].

  2. Hiperestimulação Dopaminérgica e Mecanismo de Recompensa: Aplicativos e redes sociais ativam o sistema mesolímbico de recompensa, gerando picos de dopamina que reforçam o comportamento de checagem constante. Isso cria uma espécie de "loop dopaminérgico", semelhante ao observado em comportamentos aditivos. Montag et al. (2019) alertam que esse padrão pode alterar o limiar de prazer, levando a uma menor tolerância ao tédio e maior impulsividade [Montag et al., 2019].

  3. Córtex Pré-Frontal: Queda na Tomada de Decisões e Autocontrole: O córtex pré-frontal dorsolateral, responsável por habilidades executivas, é comprometido quando o cérebro é exposto de forma crônica à multitarefa digital. Estudos de neuroimagem mostraram menor ativação dessa área em usuários intensivos de redes sociais, comprometendo habilidades como planejamento, organização, autorregulação emocional e controle de impulsos [Horvath et al., 2020].

  4. Atrofia Funcional do Hipocampo e Memória Prejudicada: O hipocampo, estrutura crítica para a consolidação da memória, também sofre os efeitos do consumo de informações rasas. Um estudo longitudinal publicado na revista NeuroImage (2019) associou o uso elevado de smartphones a redução da integridade estrutural do hipocampo, afetando negativamente a memória episódica e o aprendizado verbal [Horvath et al., 2020].



Dados Alarmantes Sobre o Uso de Tecnologia


  • O brasileiro passa, em média, 9h32 por dia conectado à internet, o que equivale a quase metade de um dia acordado [Datareportal, 2024].

  • A média de atenção humana caiu de 12 segundos em 2000 para 8,25 segundos em 2024, número inferior ao de um peixe dourado [Microsoft, 2024].

  • Um estudo da Universidade de Stanford revelou que 70% dos jovens entre 18 e 25 anos relataram dificuldade de concentração em tarefas acadêmicas após longas sessões em redes sociais [Rosen et al., 2020].

  • O tempo gasto em vídeos curtos, como os do TikTok, cresceu em mais de 500% nos últimos 3 anos, favorecendo estímulos fragmentados e recompensas imediatas [Statista, 2023].



Como se Proteger do Brain Rot?

As estratégias de prevenção e reversão do Brain Rot são fundamentadas na neurociência comportamental e visam restaurar o equilíbrio dos sistemas de atenção, memória e autocontrole:

  1. Estabeleça Limites e Rotinas Digitais: Use alarmes ou aplicativos de controle para limitar o uso de redes sociais. Criar janelas específicas para consumo digital reduz a sobrecarga mental.

  2. Detox Digital Consciente: Reserve blocos do dia para "silêncio cognitivo", sem acesso a telas. Esse tempo permite a consolidação da memória e promove a criatividade, como demonstrado por estudos sobre default mode network.

  3. Fortaleça o Cérebro com Atividades Offline: Praticar leitura profunda, aprender um novo idioma, tocar um instrumento ou resolver desafios lógicos ativa circuitos cerebrais diferentes dos usados nas redes sociais.

  4. Exercício Físico Regular: A atividade física aumenta os níveis de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que protege os neurônios e melhora a cognição — especialmente a memória e o humor [Erickson et al., 2011].

  5. Sono de Qualidade e Ritmo Circadiano: O sono REM é essencial para a consolidação da memória e o funcionamento do hipocampo. Evite telas 1–2 horas antes de dormir, pois a luz azul inibe a melatonina [Walker, 2017].

Conclusão:

O fenômeno do Brain Rot representa um sinal de alerta em um mundo hiperconectado. A ciência nos mostra que o cérebro, embora adaptável, sofre com estímulos constantes e superficiais. Proteger a saúde mental exige intencionalidade, limites e escolhas conscientes. Ao reequilibrar nosso uso da tecnologia com práticas restauradoras, damos ao cérebro a chance de recuperar sua capacidade plena de foco, memória e criatividade.





Referências Científicas

  1. SMALL, Gary et al. Brain health consequences of digital technology use. Journal of Alzheimer’s Disease, v. 77, n. 1, p. 1-10, 2020. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7366948/

  2. MONTAG, Christian et al. Smartphone usage in the 21st century: Who is active on WhatsApp? Journal of Behavioral Addictions, v. 8, n. 3, p. 438–449, 2019. Disponível em:  https://bmcresnotes.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13104-015-1280-z

  3. MONTAG, C.; BECKER, B. Neuroimaging the effects of smartphone (over-)use on brain function and structure – a review on the current state of MRI-based findings and a roadmap for future research. Psychoradiology, v. 3, 1 fev. 2023. Disponível em: https://academic.oup.com/psyrad/article/doi/10.1093/psyrad/kkad001/7022348?login=false

  4. ROSEN, Larry D. et al. Media and Technology Use Predicts Ill-Being Among Children, Preteens and Teenagers Independent of the Negative Health Impacts of Exercise and Eating Habits. Computers in Human Behavior, v. 35, p. 364–375, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.chb.2014.01.036

  5. ERICKSON, Kirk I. et al. Exercise training increases size of hippocampus and improves memory. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 108, n. 7, p. 3017–3022, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1073/pnas.1015950108



 
 
 

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